quarta-feira, 30 de abril de 2008

Revolta

Méier - Del Castilho - Terça-Feira

Pré-Vestibular

Definam pré-vestibular. Ao meu ver é um lugar onde, basicamente alunos se preparam para ter uma vaga dentro das principais universidades do país. Pensem agora no significado de pré-vestibular comunitário. Ao meu ver novamente, é um lugar onde pessoas de várias idades diferentes, normalmente pertencentes às classes menos favorecidas tentam, na marra, competir com quem se dedica exclusivamente e gasta centenas ou minhares de Reais por mês para entrar nesta competição.
O maior problema é que estes alunos de pré comunitário normalmente não tem base, devido ao nosso agraciado sistema de ensino público. Além disto, são frequentes casos de alunos e alunas que ficaram sem estudar por anos, alunos inclusive idosos, que pegaram um caderno pela ultima vez na década de 80 (existem sim).
Ao contrário dos grandes pré-vestibulares espalhados pela Brasil, os comunitários tem um propósito básico: oferecer uma chance a quem realmente precisa e que não tem a famosa "costa quente" quando se formar, ou seja, quem terá que ralar de verdade para conseguir qualquer coisa.
Não posso negar que quando comecei a dar aulas em projetos comunitários tinha em mente apenas o fator experiência "laboratorial". Afinal de contas, ainda não tinha certeza se era mesmo aquilo que queria. Mas aí, na primeira aula da minha vida, que foi numa turma de Segundo Ano do ensino Médio de um pré comunitário em Rio das Pedras ouvi algo que me fez perceber que aquele era meu destino. Esta simples frase:

- Obrigado, professor.


Nunca havia dito isto para nenhum professor meu. O psique do aluno normal é: O professor me dá aulas porque é o meio de sustento dele. Ele deve isto as mensalidades pagas e convertidas em seu salário. Errado. Por 20 anos de vida escolar, eu estava ERRADO.
Aprendi que com um simples "obrigado professor", havia uma necessidade deles, alunos sentirem-se acolhidos por alguém, alguém que, finalmente lhes passasse uma simples mensagem de que o túnel não é tão escuro quanto parece ser e que caso não tenha luz nem o final dele, Não se assuste. A visão não é o único sentido que podemos contar. Muitas vezes o esquecido TATO é o sentido mais precioso.

PROFESSORES E ALUNOS SÃO, DEFINITIVAMENTE, CARENTES DE TATO.

Mas então. No dia seguinte fiquei sabendo através de uma amigona minha da faculdade que um pré-vestibular comunitário em Del Castilho estava precisando de professor de geografia. Seriam duas turmas: uma de aproximadamente 90 e outra de 55 aproximados também. Ela, por ser uma excelente e experiente professora, já havia conquistado o tão desejado "link" entre professor e aluno. De cara aproveitei a oportunidade e "fisguei" a turma. Pela segunda vez consecutiva na minha vida alguém me dava uma chance. E eu era calouro dela! Seria muito justo ela me dizer que não estava preparado, mas ela confiou em mim e sou eternamente grato a ela por isto (não chore quando ler esta parte, tá?).
Peguei uma turma que, por gostar muito dela, não queria que um cara como EU (cara de nerd, baixinho e boca suja) a substituísse. Faria o mesmo no lugar deles. Mas aí, ao final de uma das aulas, um casal de alunos repetiu o feito do dia anterior: agradeceu pela minha presença.
Não poderia desistir destas turmas, pensei. Juntei toda minha força e encarei, desprezei todos os comentários sobre o fato de me desdobrar em aulas para comunitário, como se aquelas pessoas, carentes de ensino e talvez (ou principalmente?) até de esperança não fossem gente.
Tenho orgulho de dizer que continuo dando aula nestes lugares e tenho mais orgulho ainda em saber que 80% da minha didática é proveniente da experiência com eles. Tenho também orgulho de saber que todo meu esforço foi e é retribuído pelos meus alunos (ao contrário do ensino tradicional, público ou privado). AMO dar aulas e não enxergo classe social para isto. Se tiver que lecionar em casa de sapê ou palafita eu leciono no mesmo nível que um colégio de classe muito alta. São todos humanos, todos têm que ter chance de vencer. TODOS.
O mais curioso detudo, é que muitas pessoas, que se dizem "guerreiros da liberdade!", "guerreiros da luta social vermelha", "Marxistas ao extremo" e toda esta babquice são normalente os primeiros a desistir.

NÃO IMPORTA SUA IDEOLOGIA OU SUA RELIGIÃO. SE VOCÊ SE PROPÔS A ALGO, NÃO TRATE SUA PROPOSTA COM DESDÉM.

Muitos destes professores pensam que por ser comunitário, não há a necessidade presencial. Esquecem que são pessoas em busca de um futuro melhor. Esquecem que eles como professores tem um objetivo simples: CUMPRIR SEU TRABALHO. Muitos aparecem uma ou duas vezes por mês, sem ao menos avisar, como se mais de 100 alunos representassem um "caso amoroso", do tipo que se usa por um tempo e depois larga, para quando tiver a fim, voltar como se nada tivesse acontecido. Alunos sentem com a ausência do professor tanto quanto o professor sente a ausência dos alunos. A diferença é que sempre quem sai perdendo é o aluno.
Particularmente, eu tô cansado de ver este desprezo dos ditos "profissionais da educação" quanto suas responsabilidades em comunitários. Se você, leitor ou leitora quiser abraçar a causa, abrace! Mas faça com vontade, a recompensa, vocês terão ao final do ano. Quando chegar lá, conto a vocês.

Até a próxima!

Um comentário:

Luifel disse...

Velho, vida de professor é foda mesmo. O pior é realmente as pessoas nem sabem pelo que lutam e na primeira oportunidade já mudaram de time e aí traem o seu passado como se tudo fosse banal, mas fazer o q?

Abç vei!